Será Mesmo que a Selic Serve para Combater a Inflação?

 

    A taxa de juros Selic no Brasil foi elevada em 7,25% em 2021 (passando de 2% para 9,25%) e, apesar disso, ainda tem uma das maiores expectativas de inflação ao consumidor para este ano quando confrontado com outros países. Isso traz a tona, para os economistas, uma discussão sobre a eficácia de uma política monetária baseada apenas em taxa de juros para controlar a inflação.

    A diretoria do Banco Central (BC) e uma parte de economistas tem defendido que a política monetária baseada em aumento de juros para conter inflação tem se mostrado mais eficiente que a alguns anos atrás, ganhando mais potência. Outra parte de economistas, no entanto, tem afirmado que a manutenção das expectativas de inflação em patamar elevado de juros não está resolvendo o problema e aumento contínuo e sistemático de preços.



    De acordo com dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em Inglês), a Rússia ficou em segundo lugar, com um aumento de 3,25 pontos. Ao mesmo tempo, o Brasil tem a quinta estimativa mais alta para a inflação ao consumidor de 4% neste ano. O país fica atrás da Turquia (14,5%), Índia (4,9%), África do Sul (4,5%) e Rússia (4,3%), estes dados são do Fundo Monetário Internacional (FMI).

   Mesmo sendo o país que mais aumentou a taxa básica os resultados no nível de inflação não baixaram a um patamar confortável. Ainda que, a economia do Brasil esteja estagnada. Assim, alguns economistas concluem que a política monetária é pouquíssimo eficaz no país.

   A sinalização do Comitê de Política Monetária (COPOM) indica que o ciclo de elevações da Selic ainda não terminou. A projeção mediana do Boletim Focus para a taxa básica de juros é de 11,75% no fim de 2022.

    Algumas razões pelas quais uma ala dos economistas consideram a política monetária pouco eficaz no Brasil é que o fato de commodities e preços administrados terem peso grande no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O que na prática faz com que mudanças na taxa básica de juros afetem apenas 70% do índice. Outra razão é a alta volatilidade do real gerando um repasse precaucional de preços.

    Também há os spreads (diferença entre taxas cobradas no crédito e a paga pelos bancos na captação dos recursos) sistematicamente grandes no Brasil. No caso do cartão de crédito, por exemplo, um aumento de sete pontos percentuais da Selic, mesmo que repassado integralmente, a taxa final vai subir de 300% para 307% gerando um impacto na parcela do empréstimo ínfimo.

  Como também, elevações da Selic na mesma magnitude aumentam os custos das empresas, pressionando o custo do crédito para capital de giro, e este custo é repassado para o consumidor final. Assim, o efeito líquido sobre a inflação acaba sendo pequeno.

   Por causa destas limitações, economistas defendem que sejam usados outros instrumentos além da taxa básica de juros para controlar a inflação. Entre eles, estão depósitos compulsórios (arrecadados pelo BC por meio de alíquotas cobradas sobre recursos captados pelas instituições financeiras), Impostos sobre Operações Financeiras (IOF) e um “fundo fiscal” que ajude a dar mais estabilidade a preços de combustíveis.

    Da outra parte, economistas defendem que não é possível afirmar que o ciclo de elevações da taxa básica de juros do ano passado e as projeções de inflação para este ano mostram uma política monetária pouco efetiva. Acreditam eles, que tentar medir isso seria muito limitado, por causa das defasagens naturais da política monetária.

    O BC promoveu a primeira elevação do atual ciclo de aperto em março do ano passado, quando a taxa básica subiu de 2% ao ano para 2,75% ao ano. E segundo estes economistas estamos começando a sentir apenas agora alguns dos primeiros sinais das altas sobre a atividade econômica e, só depois, vêm os impactos sobre a inflação. Onde, segundo eles, definitivamente não deu tempo.

    Lembrando também, que a deterioração fiscal sobrecarrega os juros. Pois, a política monetária e a política fiscal devem funcionar em sincronia, destacam.

    Também, estes economistas, afirmam que a inflação no Brasil é mais alta do que a média global, mas não tão mais alta quanto foi no passado. A trajetória de preços maior e mais resistente à baixa é um fator comum a países emergentes, agravada ainda no caso brasileiro por causa do componente inercial, que é o quanto a inflação passada afeta a inflação corrente, concluem.

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