BC Eleva Selic a 10,75% e Indica Recessão no Horizonte

O Banco Central(BC) elevou nesta quarta-feira(02/02/2022) a taxa Selic para 10,75%, aumentando em 1,5 ponto percentual, retomando a casa de dois dígitos abandonada desde julho de 2017. Tudo isso, graças ao fato de que a inflação não pode ficar fora da meta como ocorreu em 2021. Onde, o alvo era 3,75% com tolerância a 5,25%, mas a inflação acumulada de 12 meses foi para quase duas vezes mais, ficando em 10,06%, resultado de um crescimento descontrolado(aumento da demanda) e choque de oferta (aumento dos custos de produção).

Assim, o BC antecipa que é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista(recessão), para afirmar seu grau de comprometimento com as suas metas de inflação para 2022 de 3,5%, como também, para 2023 de 3,25%. Mesmo que isso signifique entrar em um período de processo de desinflação. Assim sendo, o BC afirma que esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12% no primeiro semestre de 2022, termina o ano em 11,75% e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023, conforme comunicado.

Sempre buscando o objetivo principal de assegurar a estabilidade de preços, a suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego, onde os próximos passos vão depender de como a variação da inflação e a economia local e global se comportarão, mas sempre almejando a convergência da inflação para suas metas, destacou o BC.

A próxima reunião ocorre em 15 e 16 de março.

O BC também enfatizou que existe o risco fiscal apesar do bom desempenho das contas públicas, que o aperto monetário nos EUA tornará as condições mais desafiadoras para as economias emergentes, e que uma nova onda de covid-19 pode trazer mais incertezas quanto ao ritmo de atividade, e ao mesmo tempo, postergar a normalização das cadeias globais de produção.


Críticas a Política Monetária


O que vivemos hoje é um choque de demanda e um choque de oferta ao mesmo tempo. O choque de demanda é causado pelos estímulos econômicos que foi dado pelos governos para garantir a manutenção da economia durante a crise da covid-19, e o choque de oferta, se deve ao aumento dos custos de produção devido ao gargalos nas linhas de suprimentos e produção também causados pela pandemia de coronavírus.

No entanto, o aumento na taxa básica de juros afeta apenas o lado da demanda, restringindo-a e consequentemente, diminuindo a inflação. Porém, a alta do juros não tem o mesmo efeito pelo âmbito dos custos de produção(lado da oferta), principalmente quando estes são causados por gargalos nas linhas de suprimentos. Ou seja, a alta de juros não serve para combater o choque de oferta, que por sua vez, também leva ao aumento da inflação.

Diante disto, corremos o risco de ter que estrangular ao máximo a demanda sem impactar o aumento dos preços pelo lado da oferta, os resultados desta política poderão ser ínfimos ou desastrosos, podendo gerar uma recessão mais profunda e maior nível de desemprego.

Outro fator relevante à crítica da política de aumento dos juros, é o fato de que, ao elevar a taxa de juros as empresas ficam sem acesso ao crédito, e portanto, sem oportunidades de expandir ou manter seus negócios, podendo gerar mais desemprego e recessão.


Onde Investir em um Cenário de Juros Altos
 

Enquanto o BC segue na toada de apertar a política monetária, 2022 promete ser o ano da renda fixa. A recomendação é títulos do Tesouro Direto (Tesouro Selic), CDBs (certificados de depósito bancário) e Debêntures.

Investir em ouro pode ser uma alternativa para se proteger quanto à queda da bolsa de valores ou a uma política monetária mais restritiva. Isso porque sua cotação não pode ser influenciada pelos Bancos Centrais.


Leia a Integra do comunicado:

Em sua 244ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,75% a.a.

A atualização do cenário de referência do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo, o ambiente segue menos favorável. A maior persistência inflacionária aumenta o risco de um aperto monetário mais célere nos EUA, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a nova onda da Covid-19 adiciona incerteza quanto ao ritmo da atividade, ao mesmo tempo que pode postergar a normalização das cadeias globais de produção;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores relativos ao quarto trimestre tiveram evolução ligeiramente melhor que a esperada, em particular os relativos ao mercado de trabalho;
  • A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como principalmente nos itens associados à inflação subjacente;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,4% e 3,5%, respectivamente; e
  • No cenário de referência, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,45*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,4% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12% no primeiro semestre de 2022, termina o ano em 11,75% e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 6,6% para 2022 e 5,4% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária "vermelha patamar 1" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário de referência para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário de referência.

Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país.

Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação e, portanto, a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência.

Considerando o cenário de referência, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, para 10,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário de referência e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o anos-calendário de 2022 e, em grau maior, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza. 

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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